A folha em branco espera para que eu comece a preenchê-la,
mas tudo o que tenho para escrever é como aqueles olhos me deixaram em transe,
não é isso que a folha espera, tenho que desenvolver assuntos como economia do
país. Não é sobre isso que consigo escrever. Poderia falar sobre como sou
completamente apaixonada até pelas coisas imperceptíveis, poderia fazer um
artigo sobre suas cores e seus mistérios, mas não é isso.
Poderia descrever detalhadamente a textura da sua pele e
como era incrível senti lá sobre a minha, grifaria todas as partes dos teus
poemas favoritos e deixaria claro que: de qualquer voz citando os poemas de
Drummond, a sua certamente era a melhor. Deveria lembrar que poderia passar
horas imóveis apenas olhando para cada expressão e movimento teu, as tuas
bochechas coradas eram mais lindas que qualquer outra coisa.
Imprimiria todas as tuas fotos em preto e branco, porque me
faz lembrar um ator qualquer de algum filme dos anos 20. Não poderia me
esquecer de que jamais me incomodaria com você ao meu lado fumando seu
Marlboro, e que todas as vezes que escutar qualquer música dos Wipers,
principalmente Follow Blind, meus pensamentos vão correr até você.
Deveria contar todas as tuas estórias malucas (e todas as
piadas sem graça também) e os teus sonhos, tem todas àquelas vezes que você
culpava o seu signo por ser tão fraco e sentimental, e sobre as minhas coisas
favoritas em você, certamente, destacaria todas as vezes que você colocava seus
cabelos castanhos para trás da orelha, sua cara de sério, e sua cara de bobo
quando estava assistindo o seu filme preferido.
Então, poderia terminar dizendo que naquele momento em que
você me olhou segurando uma guitarra, bebendo uma cerveja no bico, com os
cabelos caídos no ombro e aquele all star velho e sujo, que era lindo, qualquer
uma teria se apaixonado.
Mas não é nada sobre isso que eu tenho que escrever,
entretanto é a única coisa na qual consigo pensar.